Muitas vezes ouvimos falar em Comunicação Não Violenta e, como o próprio nome já diz, imaginamos que é uma forma de se expressar que preza por não atacar o outro.
E está correto! No sentido geral, é isso mesmo que a CNV busca. Porém, existem outros fatores nessa prática que nos levam a refletir sobre as relações humanas, os sentimentos e necessidades de cada um, e formas de resolver conflitos levando em consideração o fator humano.
A Comunicação Não Violenta pode ser utilizada em vários setores da vida e, em especial, nos relacionamentos corporativos. Mas como isso é possível? Continue lendo e entenda um pouco mais!
O que é a Comunicação Não Violenta?
A ideia principal estabelecida pelo conceito da CNV é encontrar maneiras de se comunicar, mesmo em situações conflitantes, que evidenciem o fator humano, a empatia e a compreensão.
Ou seja, é um convite para refletir conscientemente sobre a maneira como você se comunica, bem como, de que forma os outros se expressam em quaisquer circunstâncias.
Muitas vezes, a forma com a qual aprendemos a nos relacionar com outros indivíduos parte da concepção de que para uma pessoa ganhar a outra deve perder. Desse modo, a Comunicação Não Violenta promove uma abordagem diferenciada, que visa estabelecer conexões maiores, mais profundas e resoluções mais assertivas.
Foi o psicólogo norte-americano, Marshall Rosenberg, que pesquisou e desenvolveu a prática da Comunicação Não Violenta, no início dos anos 60.
Durante o processo de elaboração do conceito, Rosenberg identificou alguns padrões de linguagem que pendiam para o lado da agressividade e, na maioria das vezes, afastavam pessoas e causavam atritos.
Com base nisso, ele reconheceu 4 elementos da CNV, que são essenciais para que seja possível voltar a enxergar as pessoas e os relacionamentos como trocas de experiências e exercer a compreensão e a confiança.
Os 4 componentes da CNV
É importante ressaltar que a Comunicação Não Violenta não é uma técnica, nem uma fórmula que, quando aplicada, trará sempre o mesmo resultado. Ela é um exercício que deve ser realizado em vários momentos e que acarretará diferentes reflexões.
Desse modo, os 4 componentes que devem ser levados em consideração na CNV são:
Observação
A observação é um exercício de relatar as situações como, de fato, aconteceram, retirando o nosso olhar e julgamento pessoal. Na prática, seria como uma descrição mesmo.
Digamos que no trabalho você tenha delegado uma tarefa, porém, por algum motivo, o colaborador não entregou dentro do prazo. Podemos tomar como exemplo a seguinte frase de observação: “Notei que o prazo para essa tarefa era ontem, mas ela não foi concluída”.
O oposto dessa visão objetiva e prática seria utilizar uma frase, como: “Você nunca termina suas tarefas no tempo certo. Você é muito devagar”.
Ao utilizar uma observação, como foi mostrado na primeira opção, é evidente que a outra pessoa se encontrará mais aberta a continuar o diálogo e buscar, em conjunto, possíveis resoluções para o problema. Já na segunda opção, o esperado seria a pessoa se ofender e acabar se fechando, sem dar espaço para uma conversa.
Portanto, a observação é um componente essencial para que haja uma leitura conjunta da realidade e uma compreensão do todo. Assim, ambos podem trabalhar na continuação do diálogo.
Sentimentos
Para a Comunicação Não Violenta o uso de palavras que expressam o que você está sentindo é essencial, pois acredita-se que se mostrar vulnerável conecta e aproxima as pessoas
Portanto, é necessário analisar o cenário e refletir sobre qual sentimento traz a observação sobre aquela determinada situação.
Igualmente importante é nomeá-los. Lembrando que sentimentos podem ser mágoa, raiva, felicidade, medo, tristeza, entre outros. Muitas vezes, é comum que as pessoas se confundam e considerem como sentimento o julgamento que fizeram da ação do outro.
Por exemplo: é diferente quando falamos “Me sinto triste” – um sentimento – de quando dizemos “Me sinto desrespeitada(o)” – não temos um sentimento, mas uma percepção do comportamento do outro.
Necessidades
Com o entendimento de qual sentimento foi instigado com a observação, há o reconhecimento de quais necessidades estão conectadas a eles.
Segundo Rosenberg, todas as ações que são tomadas estão interligadas com alguma necessidade humana. Dessa forma, é preciso entender quais são as suas próprias e tentar entender as do outro para que possam chegar a um consenso e tenham as necessidades atendidas.
Pedido
O último componente da Comunicação Não Violenta é o pedido. Uma vez que a observação, o sentimento e a necessidade foram reconhecidos, é fundamental que se faça um pedido claro e específico para que o outro indivíduo compreenda o que você quer ou o que realmente importa para você.
Nem sempre o outro saberá do que você precisa, portanto, a ideia aqui é se fazer ser entendido. E, ao contrário do que estamos acostumados, pedir algo não é sinônimo de fraqueza ou carência. É um meio de fortalecer as relações e buscar a resolução de conflitos.
Quais as vantagens da Comunicação Não Violenta no ambiente organizacional?
Assim como nos relacionamentos pessoais, em que trocamos vivências com parceiros, amigos e familiares, a CNV traz inúmeros benefícios para o ambiente organizacional também.
Podemos citar exemplos, como:
- Promover relacionamentos mais saudáveis;
- Trabalhar a escuta profunda, a empatia e a mediação;
- Tornar discussões mais pacíficas e objetivas;
- Fortalecer a parceria e o trabalho em equipe;
- Aumentar a conexão com o próximo e o acolhimento;
- Reduzir ruídos e suposições acerca da intenção da outra pessoa.
Além disso, a CNV pode auxiliar em uma melhor percepção das emoções pessoais e ajuda cada um a entender melhor sobre sua forma de se expressar e até que ponto podem ir sem enfraquecer o vínculo com a outra pessoa.
A saúde mental dos colaboradores é de extrema importância no ambiente corporativo e a Comunicação Não Violenta pode ser uma grande aliada, em conjunto com outras ações internas, para manter os vínculos benéficos e a comunicação estável na organização.
Como aplicar a Comunicação Não Violenta?
A CNV pode ser utilizada em qualquer situação de diálogo com outras pessoas e não apenas durante conflitos e/ou situações delicadas.
Entretanto, ela precisa ser exercitada diariamente, pois é uma prática e não um passo a passo do que se deve fazer.
Para isso, alguns treinamentos ou workshops no ambiente organizacional podem ser necessários para discutir e expor a teoria de Rosenberg. Para além da preparação teórica, é essencial incentivar os colaboradores a utilizarem a Comunicação Não Violenta no cotidiano, até que ela se torne natural em todas as trocas interpessoais.
Além disso, as próprias comunicações realizadas internamente pela companhia precisam ressaltar esse lado mais humano, empático e compreensivo. Afinal, a Comunicação Não Violenta é um meio de aproximar, fortalecer os vínculos e auxiliar na construção de um ambiente corporativo saudável para todos.